*O Paradoxo da Representação da Realidade*

"Farei, porém, um esforço para vos dar aquela realidade que vocês julgam ter, ou seja, esforçar-me-ei por vos querer em mim como vocês se querem. Já sabemos que não é possível, dado que, por mais esforços que eu faça para vos representar à vossa maneira, será sempre «à vossa maneira» apenas para mim, não «à vossa maneira» para vocês e para os outros.
Mas desculpem: se para vocês eu não tenho outra realidade fora daquela que vocês me dão, e estou pronto a reconhecer e a admitir que essa não é menos verdadeira que a que eu poderei dar a mim mesmo, que essa, para vocês, é a única verdadeira (e sabe Deus a realidade que vocês me dão!), vão lamentar-se agora da realidade que eu lhes darei, esforçando-me, com toda a boa vontade, por vos representar à vossa maneira tanto quanto me seja possível?

Não presumo que vocês sejam como eu vos represento. Já disse que vocês também não são aquele um tal como o representam para vocês próprios, mas muitos ao mesmo tempo, segundo todas as vossas possibilidades de ser e os acasos, as relações e as circunstâncias. Então, que mal é que eu vos fiz? Vocês é que me fazem mal, julgando que eu não tenho ou não posso ter outra realidade fora da que vocês me dão e que é apenas vossa, acreditem, uma ideia que vocês fizeram de mim, uma possibilidade de ser como vocês a sentem, como vos parece, como intimamente a reconhecem possível, já que daquilo que eu posso ser para mim, não só não podem saber nada, como eu
mesmo nada posso saber. "

Luigi Pirandello (escritor italiano, 1867-1936),
in "Um, Ninguém e Cem Mil"


(*)

Busto de Pirandello
num parque de Palermo
Buried at Photocasket.com

6 comentários:

DELÍRIOS disse...

Alma no cio liberta
do algoz de estupida voz tirana e insana
ela desata do pelourinho
a emoção escrava

Alma no cio libera, sem lamentos,
os sentimentos, em burburinhos
da bravata solidão mal-amada

Alma no cio no fulgor da paixão
cúpula com o frenético Amor
outrota, ele, caminhante do deserto
das noitas mórbidas, gélidas
elaboradas pelo vazio do corpo-estrelar.

O Amor, no gozo pleno
despoja o semen das virtudes amorosas
no ventre da desejosa Alma

Ali, na fertilidade paradisíaca
se metamorfoseiam os desencantos
em encantos
e sob o cântico bucólico
do existir
pari a verossímel, sem rímel
a pura certeza
do querer amar sem se conter!...

Você, tesouro dos meus recônditos
em seus ditos benditos
celebrou o acasalamento
da Alma com o Amor
BEIJOS DELIRIOS...

quintarantino disse...

Curvo-me, humilde, ante Vossos conhecimentos e escolhas. Desta feita, não ouso comentar. Que mais poderia dizer que não estragasse o que Pirandello deixou?

Sol da meia noite disse...

Costumo dizer que nada há de mais complicado que as relações entre seres humanos... e o teu texto confirma-o...
Somos seres complexos...

Beijinho!

Pena disse...

Costumo dizer que possuo um mundo inteiro de pessoas na minha cabeça. Sinto-os. Adoro-os! Nutro por eles um grande sentimento porque estão em mim, no que faço, no que sou.
A imagem dos outros que tenho é de uma constante admiração e encanto.
De mim, guardo para mim o constante sentimento, só meu, de uma enorme sensação de felicidade em existir. Gosto de partilhar essa felicidade.
Sabe, escreve tão bem, tão bem.
Parece que as palavras espressas cintilam, amam, conquistam.
Um Bem-Haja de admiração e estima.
Beijos Amigos
pena

Paula Raposo disse...

Não me tinha apercebido que estavas aqui. Beijos.

Miss Lau disse...

esta é uma das coisas que nao sao precisas mais palavras pa definir
:)

beijinho